segunda-feira, 12 de junho de 2017

A democracia exige educação que enfrente o sistema do capital

Hoje, vamos compartilhar na íntegra um belíssimo artigo do Prof. Luiz Carlos de Freitas publicado em seu blog que indicamos a visita.

Em tempos de pensar em nível de democracia estamos metidos ou melhor, participando cotidianamente através de nossas práticas sociais, vale muito a pena pensar nos desdobramentos que o processo de reestruturação do sistema metabólico do capital (Mészáros) lança sobre a educação, as escolas, os professores e os estudantes e suas famílias. 

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“Escolas desiguais” e a necessária boa educação
Publicado em 12/06/2017 por Luiz Carlos de Freitas - www.avaliacaoeducacional.com

Antonio Gois escreve, hoje no Globo, sobre as “escolas desiguais” a partir de dados processados pela Fundação Lemann. Como ele adverte: “continuamos produzindo desigualdade em nosso sistema de ensino, em vez de corrigir ou ao menos amenizar o problema”. Para Gois, esta situação das escolas que atendem o povo “não pode ser naturalizada”.

Há quase 100 anos V. Shulgin, um teórico russo, refletindo sobre as condições a que estiveram submetidos os operários e camponeses daquele pais durante o czarismo, dizia que o czar enviava os piores professores para trabalhar nas piores condições para ensinar aqueles que menos sabiam. Ele dizia isso para ilustrar como interessava ao então sistema czarista manter o povo na ignorância. Era uma escola de mentirinha, uma farsa destinada a enganar o povo.

No entanto, por aqui, até há muito pouco tempo, esta situação existiu sem causar muito escândalo na sociedade brasileira. Foi naturalizada pelo fato de que o chamado “exército de reserva” de desempregados que devia fornecer mão de obra para a atividade econômica, não precisava ser muito instruído. Nem mesmo os que estavam empregados, diga-se de passagem. Melhor até que não o fossem, pois o custo da mão de obra seria menor.

Mas as contradições evoluíram. No momento, vivemos outra situação na atividade econômica e na vida social. Os conflitos gerados pela desigualdade social aumentaram e, ao mesmo tempo, a atividade econômica pressionada pelas mudanças tecnológicas destinadas a preservar as taxas de acumulação de riqueza, exigem agora, entre outros aspectos, que até este “exército de reserva” tenha um status diferenciado para poder ser útil no processo de trabalho.  Tudo isso foi antecipado por um certo velho barbudo, K. Marx. E por isso, é odiado.

Mas, as razões atuais que retiraram do armário a desigualdade escolar, no entanto, são as mesmas: maximizar taxas de acumulação de riqueza. Com a necessidade de aumentar o nível de instrução da força de trabalho, surge a preocupação, também, com a eventual  “conscientização” que os níveis maiores de instrução e acesso à educação podem permitir. Daí que a escola seja cada vez mais objeto de controle rigoroso de seu conteúdo e de seus métodos (até pelo chamado Escola sem Partido). Devemos inserir estas novas exigências sobre a educação, no interior do conjunto de reformas econômicas que estão em curso no Brasil, aceleradas a partir do golpe de 2016, bem como da política educacional em curso (Bases nacionais curriculares, educação on line, avaliações nacionais, etc.).

O que constata Gois usando dados da Fundação Lemann? “Justamente onde os alunos mais precisam, há menos ações de reforço e conversas entre pais e professores para resolver problemas de aprendizagem”:

“Os dados dos questionários da Prova Brasil respondidos por diretores de escolas públicas do país — divulgados hoje pela Fundação Lemann com um recorte por nível socioeconômico dos alunos atendidos — comprovam com mais detalhes o que outros estudos já haviam identificado: damos aos estudantes mais pobres justamente os que mais precisam, escolas também mais pobres em termos de infraestrutura, qualidade do corpo docente, experiência do diretor, entre outras variáveis.”

Continue lendo o artigo de Gois aqui.

Hoje, a realidade econômica e social não permite que esta situação das escolas desiguais seja naturalizada (mobiliza até a Fundação Lemann) e faz o capital enfrentar uma de suas contradições: quanto mais cresce a exigência de instrução nos processos de trabalho, mais abre-se a possibilidade de que se desenvolva uma crítica social das práticas do capital. Portanto, justamente para poder não naturalizar a situação educacional descrita por Gois, será necessário ter o aumento do controle dos processos e das agências educativas – especialmente da escola. Será necessário ocultar, na nova lógica do direito à educação, razões antigas atualizadas, agora, como apelo à igualdade, sempre meritocrática, de forma a preserva-la em outras bases.

Isso nos leva, de volta, às mesmas intenções do czarismo russo, atualizadas.  Ocultos no discurso do direito à educação, escondem-se os mesmos interesses de antigamente: maximizar as taxas de acumulação de riqueza e manter o povo na ignorância, ainda que um pouco mais instruído.

Com esta intenção, na luta pelas ideias em que a escola está inserida, é preciso, junto com o maior controle pedagógico,  aumentar o grau de “comprometimento ideológico” dos estudantes com a lógica do capital (por exemplo, pela introdução obrigatória do ensino de “habilidades sociomocionais” nas escolas).  E é por isso que se torna essencial no presente momento discutirmos o que entendemos ser uma “boa educação”. Certamente, não é tirar nota mais alta em exames nacionais que têm por norte bases nacionais curriculares obrigatórias.

O discurso que pretende ser hegemônico neste momento, e que vem mais fortemente desde Haddad, é o de que “todos devemos nos unir pela educação”. Esta “boa intenção”, no entanto, salta uma etapa, exatamente aquela que exige nos colocarmos de acordo, em primeiro lugar, sobre o que deve ser uma boa educação. Certamente não é aquela proposta pela reforma do ensino médio do governo Temer.

Mas é claro que esta discussão sobre a boa educação não interessa, pois o empresariado tem pré-ciência dos riscos que enfrentaria neste debate. Isso não interessa à “nova ordem” econômica e social, daí que reajam preventivamente a este debate desqualificando esta necessidade como sendo uma “politização” da educação. Esta desqualificação é preciso entende-la dentro da contradição que o capital vive entre educar e explorar. Precisa de mais instrução, mas não pode abrir mão de sua concepção estreita de educação expressa em suas “bases nacionais curriculares” medidas por seus “sistemas de avaliação” e no futuro próximo ensinada por seus “sistemas on line”.

Finalmente, apenas para não dizer que não apontei, a desigualdade escolar tem incomodado mais do que sua irmã gêmea: a desigualdade social, especialmente a que atinge as crianças brasileiras. Mas sobre isso eu já escrevi em outro post.

Publicado em 12/06/2017 por Luiz Carlos de Freitas - www.avaliacaoeducacional.com

quarta-feira, 7 de junho de 2017

ESTÁ FALTANDO DEMOCRACIA no governo brasileiro

Geraldo Magela/Agência Senado


⌛- Na ausência de um ambiente democrático para a condução dos debates e definições de políticas educacionais no Brasil, os Representantes do Fórum Nacional de Educação (FNE) entregaram nesta quarta-feira (07) na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado um documento em que anunciam a saída coletiva dos membros do órgão. São mais de 20 entidades que assinaram até agora o documento.


Leia a matéria na íntegra CONFIRA AQUI.